Testemunho do seminarista Eduardo Cantelli a partir de sua experiência missionária na Amazônia
"É preciso agradecer a quem proporcionou tal experiência, a quem generosamente abriu a porta, seja para visita, seja para hospedar. Quem enviou e quem recebeu. Pessoas que se doam pela causa. Bendito seja Deus pela vida. Bendito pela missão"
Entre os dias 05 de janeiro e 03 de fevereiro, o seminarista Eduardo Cantelli, que está na etapa da Configuração, também chamada de Teologia, esteve realizando sua experiência missionária. O jovem da Diocese de Caxias do Sul participou da I Experiência Vocacional-Missionária "Pés a Caminho", na Arquidiocese de Manaus e também esteve em São Gabriel da Cachoeira, também no estado do Amazonas.
Ele nos dá seu testemunho, confira:
Cristo aponta para a Amazônia!
Entre os dias 05 de janeiro e 03 de fevereiro estive na Amazônia para uma experiência missionária. Esta experiência contemplou os locais de Manaus e São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas. Foi um mês de humanização, compreensão, abertura de olhos à uma nova realidade! Inspirados pela fala de São Paulo VI, que Cristo aponta para a Amazônia, para lá se voltaram as atenções.
Em Manaus, com mais outras 280 pessoas (seminaristas, religiosas, sacerdotes, bispos e juventude missionária), participei da I Experiência Vocacional-Missionária Nacional “Pés a Caminho”. Foi um tempo da graça do Senhor! Em uma equipe de 7 seminaristas, passamos aproximadamente dez dias na comunidade Divino Espírito Santo, na Zona Leste da capital amazonense. Foram dias dedicados a visitas às famílias, lideranças que ainda participam e que já deixaram de participar, idosos, etc. Mas também dedicados a encontros com catequizandos, infância missionária, terço dos homens, preparo da liturgia, celebrações, enfim, diversas das atividades que aquela comunidade possuía e que contaram com nossa presença naqueles dias. A hospedagem se deu nas próprias famílias da comunidade.
Foram dias brilhantes, de verdadeiros testemunhos de acolhida, de hospitalidade, de humanidade. Pessoas, por vezes, muito simples, mas de coração generoso. Em muitas das casas sempre havia algum lanche à espera dos missionários que chegariam, sinal do preparo e da alegria interior pela visita que se aproximava. É justamente nesses momentos que é possível sentir como Deus está perto de nós! Cada conversa, troca de experiências e realidades, é tudo levado no coração. É nele guardado e meditado. Poder caminhar pelas ruas e sentir a realidade, ver o povo, seu local, são coisas que colocam no mundo real e mostram a imensidão do país, retirando-nos, talvez, de uma “bolha”.
Findados os dias em Manaus, embarquei no expresso, uma lancha que faz o deslocamento entre as cidades de Manaus e São Gabriel. Foram 31 horas de viagem. Tempo propício para a oração, ver a paisagem da margem do Rio Negro, como também entender um pouco mais sobre como funcionam as coisas naquela região. Se fosse de barco, o tempo seria de três dias para mais. Ao chegar a São Gabriel da Cachoeira, começaram a surpreender as belezas naturais já existentes. E como já caia a noite, ficou a curiosidade para o dia seguinte. Naqueles dias que fiquei na cidade, pude, com as lideranças das paróquias daquela diocese (a mais indígena do país) participar do curso de formação de leigos e leigas, iluminados pela Palavra de Deus. Cerca de 70 leigos que buscam melhor formar-se para assessorarem suas comunidades. Neste, a oportunidade foi de conhecer algumas das 23 etnias presentes no território, bem como tentar compreender a realidade daquele local através das conversas que iam se desenvolvendo. Foi possível uma visita aos irmãos encarcerados, vendo Cristo preso que aguarda a visita. Também pude conhecer algumas comunidades, tanto urbanas como ribeirinhas – estas, com o deslocamento através de barco -, e, assim notar como a Igreja é formada por muitos membros, mas é uma e única. Lá se celebra a mesma fé daqui. Talvez, com algum modo diferente na expressão, mas é Cristo que nos une! Os deslocamentos entre os locais são sempre maiores. Muitas horas para chegar a algumas paróquias, navegando pelo rio, seja de “rabeta” ou “voadeira” (tipos de botes). É a maior diocese do mundo, se considerada sua extensão geográfica. Mas poder chegar às comunidades, celebrar, e após partilhar o alimento ofertado pelo povo, é uma sensação impagável!
Não é possível querer compreender aquela realidade se pensarmos com nosso modo de pensar as coisas, dentro de nossas comodidades e estruturas. Tudo é muito diferente! É preciso ir sem preconceito. Os costumes, a alimentação, e inclusive a fala, pois muitos falam a língua da etnia, e, portanto, o Português é utilizado com alguma dificuldade. Mas é também um povo generoso, acolhedor, que tem sede de Jesus que lhes é oferecido. Por vezes, com muita labuta, mas, o Evangelho tem força própria, cresce dia e noite, e vai transformando a realidade. Não depende inteiramente de nós. Mas ele chega e transforma. O sorriso, o abraço, e a alegria são sinais disso!
Inúmeras páginas poderiam ser escritas e mesmo assim não seria possível expressar o que é conhecer estas realidades. É somente vivendo-as que se pode sentir. Mas a partilha, certamente, além de fazer reviver, pode ser um “aperitivo” para quem tem contato. Há também, certamente, dificuldades. Essas se partilham e se procura como enfrentar, como superar, como modificar – é fazer-se um com aquele povo. Porém, é preciso ter claro que muito mais do que levar o Evangelho, uma experiência missionária como essa faz encontrar com o próprio Evangelho: Cristo. Ele se revela no seu Povo, e é possível encontra-lo. Mesmo com algumas dificuldades próprias da adaptação, o contato com essa realidade faz a missão ser bela, ser divina. Vale a pena! É preciso esvaziar-se para poder se encher de tudo o que a Amazônia tem para oferecer. E uma experiência como essa serve também para abrir os olhos de que a missão é da Igreja. O sacerdote é da Igreja, e não somente de um local. Fica o anseio para um dia voltar.
É preciso agradecer a quem proporcionou tal experiência, a quem generosamente abriu a porta, seja para visita, seja para hospedar. Quem enviou e quem recebeu. Pessoas que se doam pela causa. Gastam a vida por Nosso Senhor. Bendito seja Deus por tudo o que vi, ouvi, compreendi, aprendi e partilhei. Bendito seja pela vida. Bendito pela missão. Bendito pelos povos. Bendito pela vida!